No último dia 24, a novela da Rede Globo, A FORÇA DO QUERER,
que vai ao ar diariamente às 21h15min, exibiu uma cena onde um personagem,
profissional de Educação Física, vende um hormônio à outra personagem, que vive
angústias em relação ao próprio corpo.
Confesso que pensei 10 vezes antes de postar sobre o tema.
Primeiro, porque não queria criar polêmica que daria ainda mais importância ao
fato. Depois, porque tinha certeza que diversos colegas mais competentes que eu
se manifestariam e eu acabaria sendo repetitivo.
Como previsto, vieram as legítimas manifestações de repúdio
e indignação e, com elas, os mais diversos comentários. Aí, apaixonado pela
minha profissão e habituado a sempre me posicionar sobre os temas que a
rodeiam, resolvi fazer esta postagem.
O que mais me preocupou foi ler colegas de profissão se
manifestando no sentido de que a novela só retratou uma suposta realidade e
que, de fato, a venda de substâncias ilícitas é comum dentro das academias.
Alguns chegaram a citar percentuais acima de 80% de estabelecimentos onde este
tráfico ocorreria.
Bom...não vou nem entrar no mérito destes indicadores, que
nascem sei lá de onde, e que buscam dar credibilidade a afirmações
completamente sem fundamento.
O que me preocupa é a ingenuidade em não se perceber que
comentários como estes reforçam um estereótipo que há muito combatemos.
Avançamos com a regulamentação e amadurecimento científico da profissão. Hoje
já ocupamos um lugar, se não com o reconhecimento e valorização que merecemos,
ao menos de mais destaque do que há 20 anos. E isso não tem sido fácil de
conquistar e de manter.
Somos constantemente alvo da ignorância dos gestores
públicos que desconhecem a relevância da Educação Física como componente
curricular imprescindível à formação de crianças e jovens; dos legisladores e
da Justiça que, em defesa de pequenos grupos, colocam a sociedade em risco ao
permitir que pessoas sem a devida capacitação ofertem serviços na área da
saúde; da mídia (ou parte dela) que ainda nos vê como narcisistas, de baixa
capacidade intelectual e, como no caso em tela, vendedores de esteroides
anabolizantes.
Ok...sabemos que existem criminosos diplomados em Educação
Física que vendem tais substâncias. Estes têm que ser denunciados e banidos da
profissão, além de responderem pelos crimes previstos no Código Penal.
Mas também existem os médicos que reutilizam próteses e
prescrevem medicamentos com base em suas relações com as indústrias
farmacêuticas; os advogados que orientam os seus clientes a falsificarem suas
assinaturas; os policiais que atuam mais como bandidos do que como agentes da
lei; os engenheiros que assinam os projetos de construção e nunca põem os pés
no canteiro de obras.
Em suma, existem profissionais incompetentes e sem ética em
qualquer profissão, mas em poucas percebo, de forma tão gritante, a síndrome de
“vira-lata” comum na nossa.
Não podemos estereotipar uma categoria pelos maus exemplos
que não representam um conjunto de profissionais. Isso serve para os médicos,
advogados, policiais, engenheiros e...para os PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.
Deveríamos investir mais em divulgar os bons exemplos.
Colocar na mídia os maravilhosos serviços prestados à sociedade, quase sempre
com o sacrifício hercúleo de profissionais que abraçam causas e sonhos, muitas
vezes sem o retorno financeiro necessário.
A novela simplesmente retratou a realidade...não a das
academias, mas a realidade de um país que menospreza o que é certo e
supervaloriza o que há de pior e reprovável.
País no qual a inversão de valores nos leva a situações onde
o certo é fazer o errado. Onde os homens de sucesso, via de regra, são aqueles
que ignoram a ética, as relações humanas e o direito do próximo.
É possível que nos próximos capítulos do folhetim, o
criminoso travestido de profissional, responda pelos seus atos e aí, de certa
forma, a mensagem poderá ser até positiva.
Mas se não mudarmos a nossa postura e não aprendermos a nos
posicionar como um corpo, continuaremos sendo alvos fáceis de quem, por
ignorância ou interesses escusos, nos vê, ainda, como aqueles que por não terem
nenhuma outra aptidão, resolveram cursar Educação Física.
Somos profissionais da Saúde, da Educação, do Esporte.
Lidamos com gente: com crianças, com jovens e com idosos.
Somos Profissionais de Educação Física e exigimos respeito, inclusive o próprio.
Saudações.