terça-feira, 23 de julho de 2019

QUEM IRÁ MINISTRAR AULAS DE JIU-JITSU NAS ESCOLAS DO RIO DE JANEIRO?


A Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro lançará nesta terça feira, 23 de julho, o Programa ESPORTE NA ESCOLA.


Como ainda não temos informações precisas sobre o caráter e a estrutura organizacional do referido programa,  seria leviano fazer qualquer juízo de valor sobre a iniciativa proposta pelo atual Secretário, Pedro Fernandes. Mas como gato escaldado tem medo de água fria, antecipo algumas preocupações nascidas das informações já veiculadas. Vamos lá!

De acordo com o que já foi divulgado, o Rio de Janeiro será o primeiro estado brasileiro onde todas as escolas públicas terão aulas de modalidades de lutas com o lançamento do programa “Esporte na Escola”, que levará o ensino e a prática das artes marciais às unidades da rede pública estadual.

Não por coincidência, o Jiu-Jitsu será a primeira modalidade a ser implantada, uma vez que a iniciativa partiu do Secretário de Educação, Pedro Fernandes, que também é faixa preta de jiu-jitsu. Sem demérito nenhum à modalidade, que uma vez ministrada com os objetivos e estratégias adequados ao ambiente escolar pode contribuir como qualquer outra na formação de crianças e jovens, me pergunto se não há aí um “que” de favorecimento aos “colegas de farda”.

Por que não a Capoeira, modalidade genuinamente brasileira ou o Judô, Karatê ou Taekwondo, dentre outras modalidades olímpicas? Vai saber!

Outra: a partir deste segundo semestre letivo, haverá licitação para a escolha da empresa responsável pela contratação dos atletas profissionais que ministrarão as aulas às crianças. Quem topa acompanhar???

Isso é deveras preocupante.

A contratação de atletas profissionais, sem Graduação em Educação Física para atuarem dentro das escolas, fere a Lei de Diretrizes e Bases da Educação no que tange a formação para atuação na Educação Básica, além de burlar a obrigatoriedade de concurso público, sem entrar no mérito da capacitação, o que é outro ponto crucial na discussão.

A modalidade pode até ser inserida como parte diversificada do currículo das escolas públicas, mas neste caso, as aulas têm que ser ministradas por professores licenciados e concursados, como determina a Lei e a Constituição.

Por fim, embora o momento trate especificamente de inserção de aulas de Jiu-Jitsu, que através de uma interpretação oblíqua estaria sob o manto das decisões do STJ, que afastam a obrigatoriedade de formação superior em Educação Física para ministrar aulas de lutas e artes marciais, notem que o nome do Programa é ESPORTE NA ESCOLA”, ou seja, abrir-se-á a porteira para a volta disfarçada dos amigos da escola ou monitores de esportes, figuras combatidas e afastadas graças às ações do Conselho de Educação Física.

Lá vamos nós de novo!

Sou bastante simpático à utilização dos equipamentos das escolas para o fomento e democratização do esporte. Mas quando essas iniciativas caem de paraquedas e sem muita fundamentação ou transparência, questiono se os reais motivos estão, de fato, voltados a oferecer um serviço de qualidade aos nossos cidadãos.

Parece que vem mais luta, sem trocadilhos, por aí.

Abraços.

6 comentários:

  1. Quando iremos discutir as "carteiras de treinador desportivo"?? Solução já utilizada na Europa e que ajudaria bastante a comunidade brasileira. Assim os profissionais de Educação Física ficariam com a educação básica e/ou a "preparação física" em clubes e academias, enquanto os "treinadores" teriam uma formação teórico e prática junto a federação do seu respectivo esporte ou do órgão responsável pelas licenças. Em Portugal geralmente são III níveis de licenças para cada esporte e as graduações em educação física e ciência do esporte habilitam esses profissionais ao nível I ou II de cada esporte, o que vai depender da qualidade da IES, matérias cursadas, estágio e optativas. Formado ou não o treinador deve cumprir os requisitos mínimos para cada licença e começar a estudar e trabalhar no nível mais baixo até um dia poder atuar com o esporte de alto rendimento.

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    1. Bom dia.

      Na verdade Blogueiro, já vimos discutindo.
      Aqui mesmo no blog você vai encontrar algumas postagens tratando deste tema.
      Eu concordo em parte contigo. Só acrescentaria que no caso da formação de base, especialmente na iniciação desportiva com crianças, também vejo como imprescindível a formação acadêmica em Educação Física, mas no que se refere ao desporto de alta performance, também questiono esta necessidade.
      Outra coisa: não deixaria com as federações desportivas o papel de formadores, pois conhecemos a história de nossas entidades desportivas.

      Um grande abraço.

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  2. Fugindo um pouco do tema. Temos em algumas regiões "excesso" de profissionais licenciados, enquanto em outras o mesmo não é encontrado, principalmente no interior dos estados mais carentes. Há muita gente sem formação na área ministrando as aulas de educação física na educação básica. Infelizmente acredito que a falta de valorização dos professores, plano de carreira, estruturas precárias e a violência fizeram muitos graduados perderem o interesse de trabalhar na área. Isso abriu brecha para pessoas não qualificadas. Quanto a proposta do secretário, ele só esta tentando legitimar algo que já vem acontecendo. O que não esta certo !!! Bom sigo acompanhando o site para aprender mais e torcendo para tal proposta nunca se efetivar. Retroceder jamais !!!

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    1. Muito obrigado por seu comentário.
      Concordo com você, a falta de valorização é o principal problema enfrentado.
      Minha preocupação com a proposta em discussão é se o tiro não irá sair pela culatra. O ensino das lutas pode ser interessante, mas tem que estar voltado para a formação cidadã. Não sei se todos os lutadores estão preparados para isso.

      Um grande abraço.

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  3. ótima conteúdo esse para o colégio zona norte SP, gostei demais desse post, assunto importante, excelente pauta!

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