quinta-feira, 7 de abril de 2016

ROMÁRIO FARIA, SEM A CANETA NA MÃO... É UM POETA

A Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou, em decisão terminativa, o relatório com as emendas do Senador Romário Faria, favorável à aprovação do Projeto de Lei 522/2013 que “regulamenta” a profissão de técnicos de modalidades desportivas coletivas.

O PL é um grande balaio de gatos que fere diversos princípios constitucionais, mistura relações de trabalho com regulamentação de profissão, dá poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado, ou seja, uma miscelânea digna de um craque de futebol que, apesar de legitimamente eleito, demonstra seu despreparo para atuar como representante de seu Estado. Deveria, pelo menos, ter se cercado de assessores competentes ou ouvido os diferentes segmentos impactados pelo PL. Mas, humildade nunca foi uma característica do “Baixinho”.

Impossível tratar de todas as incongruências do texto legal em uma única postagem. Por isso, como já fiz em outros momentos, vou fatiar o tema em algumas partes. Nesta primeira tratarei do inciso IV do art. 3º, diga-se de passagem, que não constava do texto original, mas foi incluído como emenda pelo “Peixe”.

Art. 3º - A profissão de técnico ou treinador profissional de modalidade desportiva coletiva pode ser exercida indiscriminadamente:
IV – pelos atletas ou ex-atletas da modalidade esportiva que pretendem treinar, com experiência profissional comprovada de, pelo menos, cinco anos.

Notem que o texto não cria quaisquer outras restrições, senão ter atuado como atleta profissional por, no mínimo, 5 anos.

Não vou entrar no mérito se o treinador da seleção brasileira de voleibol ou da equipe principal de basquete de um grande clube tem que ter ou não, formação superior em Educação Física.


A pergunta é: um cidadão que tenha cursado somente os anos iniciais do ensino fundamental, mas que jogou futsal profissionalmente por 5 anos, está apto a ensinar habilidades motoras para crianças de quaisquer idades, para crianças cegas, cadeirantes ou com outras necessidades especiais que participem de equipes paralímpicas?

Um engenheiro, médico, advogado ou profissional com qualquer outra formação que não seja em Educação Física, detém conhecimento didático-pedagógico, biomecânico, cinesiológico, de psicologia da aprendizagem, de treinamento desportivo, aprendizagem motora etc., somente a partir de suas vivências como ex-atleta?

O Senador Romário Faria disse que SIM!!!!

Ao fazer isso, o goleador chutou a bola para muito longe do gol. Colocou a sociedade em situação de extrema vulnerabilidade ao expor nossas crianças e jovens a pessoas que, sem a devida formação técnico-científica, se limitarão a reproduzir movimentos aprendidos, a adestrar os jovens aprendizes com base nos seus próprios estilos e, principalmente, colocou a integridade física e psíquica dos pequenos seres em formação, em grande risco.

 Cabe aqui lembrar que estamos diante de um projeto de lei que ainda terá que passar por várias etapas, desde a aprovação na Câmara de Deputados à sanção presidencial. Mas não podemos cochilar!!!!

Já demonstramos em outros momentos que somos capazes de nos mobilizar e sensibilizar políticos e a sociedade quanto ao seu direito de ter atividades físicas e desportivas ofertadas por profissionais com competência e habilitação.

Está na hora de nos organizarmos mais uma vez para essa ação, que não pode ser vista como uma luta corporativa ou de reserva de mercado. A sociedade precisa ser protegida, no caso do objeto da lei em discussão, de pessoas sem a devida formação.

Ao invés de ficarmos reclamando ou colocando a culpa em A, B ou C (C de CONFEF, que até tem certa culpa, mas discuto isso em próxima postagem), façamos a nossa parte. Vamos entrar em contato com as nossas entidades, com os nossos alunos e com a sociedade em geral. Vamos discutir o assunto em nossas rodas de amigos, profissionais ou não. Organizar abaixo-assinados e pressionar nossos representantes políticos.

E aí, está disposto a entrar nessa ou vai ficar parado vendo a banda passar?

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!

Volto em breve, tratando do assunto.

Saudações.

14 comentários:

  1. Vamos assinar e divulgar nossa indignação! https://www.change.org/p/senado-federal-não-ao-técnico-esportivo?recruiter=523682081&utm_source=share_petition&utm_medium=facebook&utm_campaign=autopublish&utm_term=mob-xs-share_petition-no_msg

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    1. Grande amigo Alexandre Bastos,

      É isso aí, precisamos usar todos os instrumentos para impedir que esse PL vire lei.

      Um grande abraço.

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  2. Acredito que a vivência no esporte ajuda muito na hora de ensinar um atleta, mas deve ser um complemento da formação. Existem muitas situações em que um mero atleta ou ex-atleta não tem competência para discernir se aquilo pode ou não prejudicar a pessoa envolvida podendo gerar danos irreparáveis. Espero que isso não vá para frente.

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    1. Oi Gabriel, meu filho querido.
      Como é legal tê-lo aqui participando dos debates e contribuindo com suas vivências e conhecimento.
      Obrigado duas vezes, pelo comentário em si e pelo prazer que me faz sentir como pai.

      Você, como atleta de alto rendimento que é, sabe bem a necessidade de complementação entre a vivência e o conhecimento técnico-científico. Principalmente quando trabalhamos com crianças, e você é um especialista no assunto, repetir os movimentos e as estratégias de ensino que vivenciamos em nossa vida de competidor, sempre será prejudicial para nossos alunos.

      Mesmo que, por sorte, tenhamos aprendido com um profissional top de linha, cada criança requer um atendimento singular e, se não detemos o conhecimento, somos meros repetidores, incapazes de lidar com os imprevistos que permeiam constantemente a relação professor / aluno.

      Também espero que não vá para frente, mas, mais do que esperar, precisamos agir para que não aconteça. Você está convocado para essa luta.

      Beijos e, volte mais vezes.

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  3. ISSO É CARA DO ROMÁRIO E DO CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO!!!

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    1. Meu grande amigo, colega de profissão e ex-aluno Angelo.
      Que prazer imenso vê-lo por aqui.

      Estamos vivendo, realmente, um momento complicado em nosso cenário político. Mas, diferente do que os profetas do caos costumam alardear, também vivenciamos um momento promissor de avanço no que seja viver em um estado democrático de direito.

      Afinal, hoje podemos discutir, nos mobilizar, manifestar abertamente nossas ansiedades e desejos, coisas que, em regimes de exceção como vivemos a maior parte de nossa história, não seria possível.

      Podemos, inclusive, nos organizar e tentar barrar, como os instrumentos que uma democracia permite, a aprovação da PL 522.

      Saudações.

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  4. Concordo com todas as palavras descritas, portanto dando ênfase a frase: não podemos cochilar.
    Isso é a pura verdade, não se pode deixar pensar que essa ``luta`` é de um ou de outro, sendo uma luta individual, mas sim uma luta coletiva de todos, isso é inadimissivel ``dar á Cesar o que não é de Cesar``, quero dizer que não se pode dar à uma pessoa o que não é competência da mesma, como não é competência do profissional de Educação Física, prescrever dieta, cabendo esta competência ao nutricionista.
    Saudações mestre.

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    1. Oi, tudo bem?
      Muito obrigado por seu comentário.

      Concordo plenamente.

      Vou me permitir transcrever o texto, adaptação de Martin Niemöller (são tantas versões de autores distintos...):

      "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse"

      Se cochilarmos...

      Saudações.

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  5. É a comprovação da ignorância do povo brasileiro especialmente carioca em eleger um ignorante a Senador. Precisamos ficar espeto.

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    1. Amigo José Carlos, tudo bem?
      Muito obrigado por seu comentário.

      Não concordo que o motivo da aprovação do relatório que é o objeto desta discussão seja a ignorância do Senador Romário.

      Penso que existem outros interesses embutidos nessa questão, mesmo porque, o PL originalmente não é dele.

      Mas concordo que devamos ter um pouco mais de critério ao elegermos nossos representantes. Isso, acredito como nacionalista que sou, que virá com o tempo. Quando de fato aprendermos a viver em uma democracia.

      Obrigado e saudações.

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  6. Bom dia...

    Não podemos deixar esta PlPL ir pra frente, aqui em nossa cidade estamos em luta pela devida responsabilidade das aulas de psicomotricidade/Educação Física na Educação Infantil ser lecionada por professores habilitados... Agora não podemos aceitar que um leigo possa exercer a profissão sem os devidos requesitos teóricos. O Baixinho pisou na bola, faltou conhconhecimento teórico, referencial prático, comemorei quando a PL da exigência das 2 horas obrigatórias de Educação Física na escola, PL de indicação do pexe. Não podemos generalizar. CCorrijam-me se estiver errado...

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    1. Oi Prof. Mario, como vai?
      Muito obrigado por seu comentário.

      Nada a acrescentar. Concordo plenamente.

      Saudações.

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  7. Na verdade seria apenas a legalização do registro que o CREFRS deu de presente ao Dunga. Quando todos sabemos e o assistimos jogar em clubes e seleção brasileira até, pelo menos, 2000

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    1. Oi Alessandro,

      Penso que se de fato houve irregularidade na concessão do registro de provisionado ao Dunga, isso não justificaria o escopo da lei relatada pelo Romário.

      São dois problemas diferentes, que requerem tratamentos diferentes.

      Um grande abraço.

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